Freud Além da Alma

Gênero: Drama
Diretor: John Huston
Local/ano: Estados Unidos / 1962
Elenco: Montgomery Clift, Susannah York e Larry Parks
Duração: 140 minutos

ASSISTA AO FILME: FREUD ALÉM DA ALMA
Junto com Copérnico e Charles Darwin, Freud revolucionou a maneira do ser humano ver a si mesmo dentro do infinito universo. Ao assegurar que as ações e os desejos humanos não são frutos da vontade e da vaidade humana, mas sim do nosso inconsciente, Sigmund Freud sacudiu o mundo científico e criou uma nova maneira de entender a alma (psique) humana.

No filme Freud Além da Alma, John Huston pretendeu mostrar como as teorias psicanalíticas freudianas traçam a própria vida de Freud - um dos maiores gênios da humanidade. Inquieto em obter respostas aceitáveis para aplacar o sofrimento de seus pacientes, dirigiu-se à doutrina de Charcot e utilizou-se da hipnose em seus estudos sobre histeria. Embora seus estudos encontrassem resistência na classe conservadora da Medicina, que viam nas teorias de Freud uma ameaça à anterioridade do ser humano, o mesmo prosseguiu em sua linha de pensamento e descobriu que o ser humano é dividido entre o inconsciente e o consciente, lançando as bases da Psicanálise.

Freud, em maio de 1883, faz um estágio na clínica do Prof. Meynert, onde pensa em se tornar assistente. Descobre, então, uma concepção materialista da psicologia, não mais fundada em uma mecânica físico-química, mas em uma psicobiologia evolucionista.

Em março de 1884, Freud publica “A estrutura do sistema nervoso”, que falava da unidade morfológica e fisiológica do sistema nervoso. Estava começando o projeto para uma psicologia, em abril do mesmo ano, quando tomado por uma frustração, destrói seus manuscritos.

Há uma breve discussão com Meynert sobre os seus pensamentos, quando foi intimidado por esse, para não despertar o que é de mais oculto do ser humano, o que vive nas sobras da escuridão – o inconsciente. Este episódio é representado no filme com o escorpião preto que Meynert mantinha em seu gabinete.

Freud vai para França estudar com Charcot. Este procurou mostrar com várias imagens de possessão sobrenaturais e convulsões satânicas, transcritas de modo preciso, o que foi mais tarde identificado como sintomas de degeneração nervosa e fases de crises de histerias.

Através da ciência da hipnose, Charcot com seus discípulos puderam provar a decadência de um povo vivido sobre longo tempo de opressões e miséria econômica.

Sigmund Freud foi muito mais longe ao perceber que o homem que não comunica tudo aquilo que está reprimido dentro de si, que não dá oportunidade a livre expressão, pode lhe causar danos profundos em seu psiquismo.

Para ele, Charcot era um libertador, por ter analisado o homem profundamente adoecido desde a época medieval, sobretudo, o que o efeito da religião, da política e da sociedade poderia fazer sobre o ser humano.

Freud retorna a Viena, continua seu debate com Breuer, ficou familiarizado com o método “catártico” de tratamento de Breuer. Este descobriu que a paciente “podia ser aliviada de (...) estados enevoados de consciência, se fosse induzida à fantasia afetiva, pela qual estava no momento dominada”.

Com o resultado disso, Freud gradualmente afastou-se do emprego da hipnose, como auxílio na rememoração de lembranças antigas e substituiu por uma técnica de aplicar pressão com a mão na testa do paciente, enquanto o incitava a concentrar-se.

Desta maneira, gradativamente, deslocou-se para o sentido da técnica da associação livre, que parece ter sido empregada já em 1889 no tratamento de Emmy Von N., o primeiro caso a ser apresentado nos estudos de histeria.

A exploração da sexualidade por Freud achava-se diretamente em linha com os interesses centrais de toda a sua carreira científica. Em seus escritos, surgiu um contexto com fortes tons políticos e religiosos, estreitos relacionamentos, que ele percebia entre a histeria e a cultura medieval, são ilustrativos disto.

Huston, baseado no roteiro escrito pelo filósofo Jean-Paul Sartre, evitou o risco de fazer uma representação de Freud e não abordou a sua ida pessoal, restringindo-se aos seus estudos psicanalíticos. Opção acertada do diretor, pois sua produção não cai na inalterabilidade de filmes simplesmente biográficos, que se baseiam em informações fragmentadas sobre a intimidade de um personagem histórico e acabam instituindo indiscriminadamente um mito.

É conveniente observar como Huston conseguiu articular a descoberta de Freud com suas próprias experiências pessoais, como a teoria que desenvolveu sobre o Complexo de Édipo, fundamenta-se na relação com seu pai morto.

Com o falecimento de seu pai, Jakob Freud (...), passa por um momento de muitas perturbações e descreve o seu momento ao amigo Fliess: “Uma morte, todo o passado se remexe dentro de nós”, escreveu ele. “Sinto-me (...) arrancado pelas raízes” e prossegue relatando o seu sonho.
Com uma linguagem simbólica e onírica, Huston mostra o conflito interno que viveu Freud enquanto tentava penetrar no obscuro inconsciente de seus pacientes, pois temia encontrar o impensável, a sua própria essência.

O filme “Freud Além da Alma” retrata, muito bem, os momentos difíceis, que Freud viveu no início de sua carreira de médico, como ele mesmo relata:

“Fui, antes, levado por uma espécie de curiosidade que era, contudo, dirigida mais para as preocupações humanas do que era para os objetos naturais; eu nem tinha aprendido a importância da observação como um dos melhores meios de justificá-la. Nem naquela época que meu pai insistiu que na minha escolha de uma profissão, deveria seguir somente minha inclinação própria, sentir qualquer predileção particular pela carreira de médico (...)”

Freud - Além da Alma é um filme inteligente e estimulante, que nos permite uma melhor compreensão das teorias psicanalíticas freudianas sobre o funcionamento do inconsciente humano e como o pensamento da psicanálise espalhou em Viena e depois no mundo. Um filme tão genial quanto o próprio legado de Sigmund Freud.